Quando se fala em imagem de ciganos, tanto Fraser
(2005) como Ligeóis e Teixeira (2007) remontam a imagens pintadas por artistas
não-ciganos ou representadas em gravuras ou ilustrações para delinear uma visão,
mesmo que de produção individual, propagada socialmente.
Fraser (2005) começa pelo vestuário, a identificar que
roupas ciganas converteram-se no mundo em paradigma do exótico. Segundo ele,
diversas pinturas e gravuras dos Países Baixos com temas religiosos, recorreram
ao tipo cigano para representar mulheres orientais e especialmente egípcias.
Motivos similares se fizeram populares entre os pintores italianos durante a
segunda metade do século XVI. Outros modelos representavam uma cigana lendo mãos
enquanto um garoto roubava a bolsa. Segundo Fraser (2005), a composição
representa a implantação de um estereótipo concreto na mente do público. Também
cita a farsa de Gil Vicente onde as ciganas são adivinhas impenitentes e os
ciganos são viajantes de barcaças. Uma peça teatral suíça anônima de 1475, em
uma na cena se pede que se fechem todas as portas e janelas da casa, tranquem o
estábulo e recolham as galinhas pois vão passar os ciganos. Outra peça de Hans
Sachs, quase da mesma época, associava os ciganos ao roubo, à bruxaria e à
artimanha.
A prática da leitura de mão e da adivinhação sempre
esteve vinculada a esse povo. Suas imagens européias mais antigas retratam essa
atividade. Em geral, os associam a uma carga negativa para os moradores da
região por onde passavam. É enfatizada a cor escura de suas peles, assim como
cabelos sempre volumosos e negros ou ainda os descreve comparando-os com
animais.
Segundo Teixeira (2007), no final do século XVIII e
inicio do XIX houve a emergência de uma nova imagem dos ciganos, manisfetação
verificável tanto nas canções populares (como uma que Carlota Joaquina
cantarolava) quanto em peças teatrais. No Brasil, tendo a importância social do
teatro do século XIX, os ciganos são menos ridicularizados, passando a ser
representados como figuras românticas. O autor remonta a recorrência dos autores
brasileiros aos modelos europeus, vendo nos ciganos uma figura valorizada tanto
pelo seu exotismo como por sua proximidade do tipo europeu. Duas óperas foram
executadas em Ouro Preto em 1771, “Ciganinha” e “A vingança da Cigana”, nas
palavras do autor “a tradicional identificação com o crime e o comportamento
desviante foi, com uma dose de piedade, diminuída enquanto acentuava-se a imagem
romântica da buena dicha (leitura da sorte). As mulheres foram substancialmente
transformadas de “leitoras da sorte sujas em mulheres heroínas, altamente
sensuais e desejáveis” (TEIXEIRA, 2007, p. 124).
Conforme o autor, a visão estigmatizadora da cultura
cigana foi sendo substituída por um encantamento a sua liberdade e “espírito
indômito”. O comportamento diferenciado ganhou valorização por sua “capacidade
de lidar com a dificuldade da existência diária”. Diante dos modelos Românticos
e do ideal boêmio de Cervantes, emolduravam características glorificadas. Também
carregavam a presença do sobrenatural e do mistério. Toma o autor como melhor
exemplo da liberdade enaltecida a personagem da ópera “Carmem” de Georges Bizet
(1838-1875), baseada no romance do escritor Frances Prosper Mérimée (1803-1870)
e eternizada mais tarde em varias produções fílmicas.
Teixeira (2007) acrescenta uma característica de
impacto no Brasil, o olhar cigano. Segundo o autor, a sociedade cigana por ter
como base fundamental de transmissão de saber, e até mesmo para firmar
contratos, tem o olhar como ponto de partida para compreensão entre duas
pessoas. Não se sabe quando mas foram considerados portadores de um olhar mágico
e poderoso, “capaz de lançar pragas e maldições”.
Já nas peças dos brasileiros Martins Pena e Manuel
Antônio de Almeida, como nos livros de Manuel Antônio de Almeida (Memórias de um
Sargento de Milícias), o cigano volta a ser representado como ativo do roubo e
do trambique De diversas fontes (FRASER, 2005) aprendeu-se sobre eles por meio
de suas formas de ganhar a vida: as mais mencionadas são a leitura de mãos e a
mendicância. Outras são o comércio de cavalos, o manejo de metais, a cura, a
música e a dança. O roubo de comida, roupas e também dinheiro também é um tema
recorrente. Fraser (2005) também menciona uma justiça própria, como “um império
dentro de outro império, já que quando entravam em conflito entre si, as
autoridades locais deixavam que por si só fizessem sua justiça.
Em seu livro “Anticiganismo: ciganos na Europa e no
Brasil”, Moonen (2008) dedica um capítulo inteiro à construção e à perpetuação
das imagens anticiganas. Segundo ele o aparecimento dos ciganos na Europa
Ocidental evidencia documentos históricos que:
(…) deixam claro que muitos destes ciganos
aparentemente tinham uma conduta pouco compatível com os valores culturais
europeus da época, pelo que já no Século XV começaram a ser formados os
primeiros estereótipos, segundo os quais os ciganos: 1) eram nômades, que nunca
paravam muito tempo num mesmo lugar; 2) eram parasitas, que viviam mendigando;
3) eram trapaceiros, sempre aproveitando-se da credulidade do povo; 4) eram
avessos ao trabalho regular; 5) eram desonestos e ladrões; 6) eram pagãos que
não acreditavam em Deus e também não tinham religião própria. Por causa disto,
em todos os países europeus, sem exceção alguma, os ciganos passaram a ser
violentamente perseguidos, e em alguns países foram até exterminados. Cigano
virou palavrão; ser cigano virou crime. (Ibidem, p. 2)
O problema da perpetuação desses conceitos é que são de
âmbito generalizante, ou seja, se um cigano roubou um dia, todos são ladrões,
reduzindo-se milhares de pessoas a um estereótipo mal definido. Um estudo de
Moonem (2008) em torno dos primeiros ciganólogos revela outro problema. Somente
a partir de meados do Século XVIII foram publicados os primeiros livros sobre os
ciganos europeus, e quase todos os autores reforçaram ainda mais os estereótipos
negativos já existentes. Dois pioneiros dos estudos ciganos: o alemão Heinrich
Grellmann (1753-1804) e o inglês George Borrow (1803-1881) segundo Moonen
(2008), até hoje costumam ser citados por muitos ciganólogos. Grellmann editou
traduções de seu livro sobre ciganos em varias línguas. Consta que o corpo de
seu livro tem considerações de outros livros, de procedência duvidosa e
sensacionalistas, sendo que ele só teve contatos esporádicos com alguns poucos
ciganos. Em um capítulo sobre comidas e bebidas ciganas, transcreveu a notícia
de jornais de 1782 que acusava os ciganos de serem antropófagos, ou seja,
canibais, comedores de carne humana. Em decorrência da publicação, 84 ciganos
foram decapitados enquanto o livro tornava-se um sucesso editorial propagando
conclusões equivocadas sobre os ciganos. Borrow, tradutor e divulgador da Bíblia
em vários idiomas, em seu livro sobre os ciganos apresenta uma imagem negativa e
estereotipada dos ciganos espanhóis, com os quais teve contato. Antes da
publicação, escreveu: “os ciganos espanhóis são o mais vil, degenerado e
miserável povo na terra”. Segundo Moonen (2008) três são as imagens equivocadas
que não podem ser generalizadas sobre os ciganos: a de ladrão, a de trambiqueiro
e a de vagabundo.
Quando se fala em imagem de ciganos, tanto Fraser
(2005) como Ligeóis e Teixeira (2007) remontam a imagens pintadas por artistas
não-ciganos ou representadas em gravuras ou ilustrações para delinear uma visão,
mesmo que de produção individual, propagada socialmente.
Fraser (2005) começa pelo vestuário, a identificar que
roupas ciganas converteram-se no mundo em paradigma do exótico. Segundo ele,
diversas pinturas e gravuras dos Países Baixos com temas religiosos, recorreram
ao tipo cigano para representar mulheres orientais e especialmente egípcias.
Motivos similares se fizeram populares entre os pintores italianos durante a
segunda metade do século XVI. Outros modelos representavam uma cigana lendo mãos
enquanto um garoto roubava a bolsa. Segundo Fraser (2005), a composição
representa a implantação de um estereótipo concreto na mente do público. Também
cita a farsa de Gil Vicente onde as ciganas são adivinhas impenitentes e os
ciganos são viajantes de barcaças. Uma peça teatral suíça anônima de 1475, em
uma na cena se pede que se fechem todas as portas e janelas da casa, tranquem o
estábulo e recolham as galinhas pois vão passar os ciganos. Outra peça de Hans
Sachs, quase da mesma época, associava os ciganos ao roubo, à bruxaria e à
artimanha.
A prática da leitura de mão e da adivinhação sempre
esteve vinculada a esse povo. Suas imagens européias mais antigas retratam essa
atividade. Em geral, os associam a uma carga negativa para os moradores da
região por onde passavam. É enfatizada a cor escura de suas peles, assim como
cabelos sempre volumosos e negros ou ainda os descreve comparando-os com
animais.
Segundo Teixeira (2007), no final do século XVIII e
inicio do XIX houve a emergência de uma nova imagem dos ciganos, manisfetação
verificável tanto nas canções populares (como uma que Carlota Joaquina
cantarolava) quanto em peças teatrais. No Brasil, tendo a importância social do
teatro do século XIX, os ciganos são menos ridicularizados, passando a ser
representados como figuras românticas. O autor remonta a recorrência dos autores
brasileiros aos modelos europeus, vendo nos ciganos uma figura valorizada tanto
pelo seu exotismo como por sua proximidade do tipo europeu. Duas óperas foram
executadas em Ouro Preto em 1771, “Ciganinha” e “A vingança da Cigana”, nas
palavras do autor “a tradicional identificação com o crime e o comportamento
desviante foi, com uma dose de piedade, diminuída enquanto acentuava-se a imagem
romântica da buena dicha (leitura da sorte). As mulheres foram substancialmente
transformadas de “leitoras da sorte sujas em mulheres heroínas, altamente
sensuais e desejáveis” (TEIXEIRA, 2007, p. 124).
Conforme o autor, a visão estigmatizadora da cultura
cigana foi sendo substituída por um encantamento a sua liberdade e “espírito
indômito”. O comportamento diferenciado ganhou valorização por sua “capacidade
de lidar com a dificuldade da existência diária”. Diante dos modelos Românticos
e do ideal boêmio de Cervantes, emolduravam características glorificadas. Também
carregavam a presença do sobrenatural e do mistério. Toma o autor como melhor
exemplo da liberdade enaltecida a personagem da ópera “Carmem” de Georges Bizet
(1838-1875), baseada no romance do escritor Frances Prosper Mérimée (1803-1870)
e eternizada mais tarde em varias produções fílmicas.
Teixeira (2007) acrescenta uma característica de
impacto no Brasil, o olhar cigano. Segundo o autor, a sociedade cigana por ter
como base fundamental de transmissão de saber, e até mesmo para firmar
contratos, tem o olhar como ponto de partida para compreensão entre duas
pessoas. Não se sabe quando mas foram considerados portadores de um olhar mágico
e poderoso, “capaz de lançar pragas e maldições”.
Já nas peças dos brasileiros Martins Pena e Manuel
Antônio de Almeida, como nos livros de Manuel Antônio de Almeida (Memórias de um
Sargento de Milícias), o cigano volta a ser representado como ativo do roubo e
do trambique De diversas fontes (FRASER, 2005) aprendeu-se sobre eles por meio
de suas formas de ganhar a vida: as mais mencionadas são a leitura de mãos e a
mendicância. Outras são o comércio de cavalos, o manejo de metais, a cura, a
música e a dança. O roubo de comida, roupas e também dinheiro também é um tema
recorrente. Fraser (2005) também menciona uma justiça própria, como “um império
dentro de outro império, já que quando entravam em conflito entre si, as
autoridades locais deixavam que por si só fizessem sua justiça.
Em seu livro “Anticiganismo: ciganos na Europa e no
Brasil”, Moonen (2008) dedica um capítulo inteiro à construção e à perpetuação
das imagens anticiganas. Segundo ele o aparecimento dos ciganos na Europa
Ocidental evidencia documentos históricos que:
(…) deixam claro que muitos destes ciganos
aparentemente tinham uma conduta pouco compatível com os valores culturais
europeus da época, pelo que já no Século XV começaram a ser formados os
primeiros estereótipos, segundo os quais os ciganos: 1) eram nômades, que nunca
paravam muito tempo num mesmo lugar; 2) eram parasitas, que viviam mendigando;
3) eram trapaceiros, sempre aproveitando-se da credulidade do povo; 4) eram
avessos ao trabalho regular; 5) eram desonestos e ladrões; 6) eram pagãos que
não acreditavam em Deus e também não tinham religião própria. Por causa disto,
em todos os países europeus, sem exceção alguma, os ciganos passaram a ser
violentamente perseguidos, e em alguns países foram até exterminados. Cigano
virou palavrão; ser cigano virou crime. (Ibidem, p. 2)
O problema da perpetuação desses conceitos é que são de
âmbito generalizante, ou seja, se um cigano roubou um dia, todos são ladrões,
reduzindo-se milhares de pessoas a um estereótipo mal definido. Um estudo de
Moonem (2008) em torno dos primeiros ciganólogos revela outro problema. Somente
a partir de meados do Século XVIII foram publicados os primeiros livros sobre os
ciganos europeus, e quase todos os autores reforçaram ainda mais os estereótipos
negativos já existentes. Dois pioneiros dos estudos ciganos: o alemão Heinrich
Grellmann (1753-1804) e o inglês George Borrow (1803-1881) segundo Moonen
(2008), até hoje costumam ser citados por muitos ciganólogos. Grellmann editou
traduções de seu livro sobre ciganos em varias línguas. Consta que o corpo de
seu livro tem considerações de outros livros, de procedência duvidosa e
sensacionalistas, sendo que ele só teve contatos esporádicos com alguns poucos
ciganos. Em um capítulo sobre comidas e bebidas ciganas, transcreveu a notícia
de jornais de 1782 que acusava os ciganos de serem antropófagos, ou seja,
canibais, comedores de carne humana. Em decorrência da publicação, 84 ciganos
foram decapitados enquanto o livro tornava-se um sucesso editorial propagando
conclusões equivocadas sobre os ciganos. Borrow, tradutor e divulgador da Bíblia
em vários idiomas, em seu livro sobre os ciganos apresenta uma imagem negativa e
estereotipada dos ciganos espanhóis, com os quais teve contato. Antes da
publicação, escreveu: “os ciganos espanhóis são o mais vil, degenerado e
miserável povo na terra”. Segundo Moonen (2008) três são as imagens equivocadas
que não podem ser generalizadas sobre os ciganos: a de ladrão, a de trambiqueiro
e a de vagabundo.
gostaria de saber sobre a CIGANA ROSA sei que ela é de SEVILHA / ESPANHA
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